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Relato de William Machado sobre a experiência no transporte e na viagem de Três Rios a São Paulo
Implicações, investidas e esforços para participar da Reatech Por Wiliam César Alves Machado Após 17 anos apenas imaginando o que representa de fato uma viagem de ônibus para pessoa com deficiência física adquirida, cujo corpo físico apresenta quadro de espasticidade severa e substantiva mobilidade reduzida, decidi pagar para ver, embarcando em Três Rios, Rio de Janeiro, com destino a São Paulo, em 15 de abril de 2011, para participar da X Reatech, a maior feira de equipamentos e tecnologias inclusivas para pessoas com deficiência da América Latina. Muita ansiedade sobre como seria a viagem, as pessoas que ajudariam na subida e descida no ônibus, ajustes do meu corpo no assento, os espaços para posicionamento confortável dos pés, etc. - considerando-se que a lesão cerebral comprometeu apenas área motora e manteve preservada sensibilidade. Nessas situações, quase não conseguimos relaxar. Por isso mesmo, dormi pouco na noite que precedeu a viagem. Nas operações embarque/desembarque vi que é possível, embora sofrível, devido as dificuldades de manobra em espaços tão limitados como o dessas viaturas. Mais adequado seria se todo veículo para uso coletivo fosse adequado com plataformas verticais e pudesse atender a todos. Bastaria utilizar o que se compreende por desenho universal para humanizar o acesso aos meios de transporte de uso coletivo, garantindo a todos prazer ao viajar com mais autonomia, conforto, segurança. A propósito, o Artigo 2 da Convenção da ONU sobre Direitos da Pessoa com Deficiência – “Definições”x-, esclarece que: “Desenho universal significa o projeto de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados, na maior medida possível, por todas as pessoas, sem que seja necessário um projeto especializado ou ajustamento. O ‘desenho universal’ não deverá excluir as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, quando necessárias”. A condição de pessoa com mobilidade reduzida só impõe certo desconforto a quem se proponha viajar para longas distâncias, até mesmo em carros particulares, e disso não há mesmo como fugir. A questão que se coloca é: O que se deve fazer para que os ônibus usados para transporte intermunicipais, interestaduais e internacionais sejam adequados com plataformas verticais a exemplo dos transmunicipais? Afinal, no Brasil, maioria das pessoas com deficiência é mesmo de baixa renda e potenciais usuários desses serviços. Por que impor a essas pessoas tamanha exposição, desconforto? Nos 520 Km da ida tivemos duas paradas, quando todos descem para andar, alongar, espreguiçar, tomar água, comer algo, ir ao banheiro, etc. Nesses momentos, cadeirantes permaneceram sentados (exceto na parada para almoço, em Guarulhos) sem desfrutar do direito dos demais, devido aos transtornos e desgaste físico que a operação embarque/desembarque representa para eventuais voluntários a ajudar. O percurso foi realizado em 9h devido à parada para almoço por cerca de 1h, além dos congestionamentos do trânsito no período da manhã na via Dutra e na cidade de São Paulo. Na viagem de volta, mais 520 Km, saímos de São Paulo às 21h30 e chegando em Três Rios às 5h. Foram 7h30, com maior fluxo do trânsito, embora pontuais retenções ali e acolá. Parada apenas em Guaratinguetá, cujos cadeirantes permaneceram no ônibus. Foram cerca de 24 horas sentado, ora na cadeira de rodas, ora na poltrona do ônibus. Uma prova de resistência à dor lombar, à ardência do traseiro, ao equilíbrio postural nas freqüentes e bruscas reduções na velocidade nos engarrafamentos, semáforos e quebra-molas, e atenção redobrada no controle de tudo que se ingere tanto líquido como sólido, como medida preventiva às eliminações indesejadas e/ou acidentais. Todo esse sacrifício para participar de um dos maiores eventos de acessibilidade para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida do mundo, a X Reatech. É sempre positiva oportunidade de conhecer avanços da tecnologia assistiva, materializados em produtos e serviços disponíveis a quem possa pagar. Nesse aspecto, é importante destacar que as mercadorias e tecnologias assistivas expostas na feira, em sua grande maioria, pouco acessíveis ao poder aquisitivo de muitos brasileiros com algum tipo de deficiência. Quem sabe, se nos mobilizássemos em prol da isenção dos impostos poderíamos tornar esses recursos mais próximos da maioria dos deficientes? Algo precisa ser feito para que todos possam ter acesso aos avanços tecnológicos que promovem nossa qualidade de vida. Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado é secretário Municipal do Idoso e da PcD – Três Rios, Rio de Janeiro |
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