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Depende do Chocolate

O texto foi encaminhado por uma participante da I Conferência Municipal de Cultura realizada nos dias 21 e 22 de Outubro no Theatro Paulo Gracindo.

Ignez Leão

         Como mãe zelosa, vi na Conferência Municipal de Cultura uma oportunidade de encontrar alguma luz no fim do túnel para a (falta de) vida cultural de meus filhos na cidade. Se você leitor, acha esta preocupação uma bobagem é por que a situação é grave mesmo.

         No primeiro dia pude entender que esta conferência é a parte municipal de um levantamento de pessoas, idéias, reclamações e propostas que serão levadas à conferência estadual que por sua vez fará o mesmo levantamento de pessoas, idéias, reclamações e propostas para uma conferência federal.

         O representante turístico-cultural do município mostrou em coloridos gráficos que não pode fazer muita coisa, pois não tem informação “sobre” e que fará um levantamento de pessoas, idéias, reclamações e propostas para depois fazer um “processo” de decisão de fazer alguma coisa.

Parece o meu filho mais velho explicando porque não vai arrumar o quarto hoje, talvez nem amanhã.

         Com seus muitos poucos anos de experiência, os palestrantes estavam todos atrasados para ir a outra conferência em outra cidade e por isso não programaram suas falas direito, mas “iam se esforçar”.

          Levaram anos para fazer tudo numa mesma semana... tipo caraca tenho que entregar pesquisa de ciências amanhã!!...

            Todos os convidados de fora da cidade afirmam que “não são” o que ali representam, apenas “estão” investidos de algum cargo e teceram loas partidárias de como seu governo nos presta um bom serviço.

            Bem, pelo menos o novo representante do grande patrimônio imperial, se saiu até bem, mesmo com todas as respostas e soluções que lhe cobraram, sendo ou não pertinentes ao seu comando.

         Afinal, entre a dicção inaudível de um e a falta de experiência de outra, me ensinaram gentilmente a ser um sucesso depois de ser um fenômeno na internet se eu tocar dançar e ou cantar em vídeos caseiros,

          Ah! se participar de algum grupo ou ong que faz artesanato ou folclore em alguma comunidade desfavorecida também tenho chance.

          Como dica de economia me indicaram cobrar 10 reais por cabeça se inventar algum espetáculo.

         Por essas meus três meninos gargalhariam sem dó nem piedade.

         Ficou prometido para os próximos meses um cartão com x reais mensais para gastar com cultura...?... que será entregue mais ou menos para quem já tem outros desses cartões tipo bônus por servilidade adquirida. Mas uma gentil mocinha nos tranquilizou dizendo que “depois de passar os primeiros meses consumindo bens culturais como cds da Ivete Sangalo, “eles” vão consumir outras coisas”. ??

Não dá processo citar alguém com nome e sobrenome assim? Afirmou também que, como no caso dos cds, o consumo cultural e a compra de determinado chocolate são indicadores de faixa social econômica... “se eu ganhasse mais compraria o chocolate tal... mas como não posso, compro Baton mesmo”. Isso significa que quando “eles” ganharem bem mais comprarão um cd do Beethoven?... mas, não será uma questão de gosto, paladar ou de mais um processo?

         Vou perguntar amanhã... se eu for... e se ainda estiver o terapeuta presente, me sentarei a seu lado para caso eu surtar.

Os meninos não merecem mãe pagando mico. 

Programação dos filmes em cartaz